A hora de melhorar o parecer dos auditores

Recomendamos a leitura do artigo "A auditoria e o compromisso com a evidenciação". LEIA AQUI

 

O texto é muito importante neste momento em que se repensa o papel dos auditores independentes e o conteúdo do Parecer de Auditoria, tamanha é a quantidade de escândalos envolvendo as empresas que realizam tão importante tarefa. O artigo sugerido para leitura apresenta como sugestão a utilização da técnica de “análise das demonstrações contábeis” como complemento para a apresentação dos pareceres de auditoria.

 

Vejam a seguir matáeria recém publicado no Jornal Valor Econômico sobre este mesmo tema.


Auditores planejam mudança em parecer

Contabilidade: Divulgação de mais informações poderia reduzir expectativa sobre o trabalho dos profissionais.

Por Fernando Torres | Valor Econômico

Os auditores têm consciência de que o alcance real de seu trabalho nem sempre é bem compreendido pelo público e que isso contribui para a existência do que eles chamam de "vão de expectativas" em relação à profissão. O termo se refere à distância que existe entre o que de fato é assegurado pela serviço de auditoria e o que os leitores de balanços esperam que um parecer sem ressalvas represente. [1]

 

Em entrevista ao Valor, o presidente do Iaasb (órgão internacional que representa os auditores), Arnold Schilder, disse que parte desse vão de expectativas se explica pela falta de informação sobre o trabalho do auditor e cita como um exemplo a responsabilidade sobre fraudes, que sempre geram bastante polêmica.

 

Assim, o órgão que ele representa decidiu abrir uma discussão, em nível mundial, com intuito de mudar a comunicação com os usuários das demonstrações financeiras.

 

Com base em discussões conduzidas por órgãos reguladores, pesquisas acadêmicas e em resultados de consultas públicas, o Iaasb concluiu o que, na verdade, quase todo mundo já sabia: os usuários dão valor ao parágrafo de opinião do auditor sobre as demonstrações financeiras, mas o resto do texto do parecer não é útil como poderia ser.[2]

 

Como resposta, o Iaasb divulgou um texto de 35 páginas com discussões e sugestões sobre o que poderia mudar no relatório de auditoria ou, de forma mais ampla, na comunicação sobre o trabalho dos auditores. O órgão espera receber comentários do público até 16 de setembro.

 

Uma das propostas apresentadas, explica Schilder, envolveria a apresentação de um relatório elaborado não pelo auditor, mas pelo comitê de auditoria ou conselho de administração da companhia auditada sobre os temas debatidos com os auditores.[3] "O conselho da empresa levaria para o público parte dessa discussão, que hoje é confidencial. E o auditor, por sua vez, faria um comentário para dizer se o relato apresentado é fiel ou não", afirma o presidente do Iaasb, que esteve em São Paulo nesta semana para a Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria, em comemoração aos 40 anos do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).

 

Ele destaca que o Iaasb não teria como obrigar as empresas a fazer isso, já que só tem ligação direta com os auditores. Mas se a proposta for bem recebida durante a audiência pública ela pode ser levada a órgãos reguladores como sugestão.

 

No Brasil, os comitês de auditoria dos bancos divulgam um resumo de relatório sobre o trabalho realizado – sem muitos detalhes sobre eventuais discussões -, mas não existe obrigação semelhante para as companhias abertas de forma geral.

 

Outra proposta colocada em discussão pelo Iaasb tem como base o modelo usado na França. Além de dar a opinião sobre as demonstrações financeiras, os auditores franceses precisam justificar pontualmente, nota por nota, a avaliação e os testes feitos sobre as contas mais sensíveis dos balanços, que envolvam mais estimativas ou julgamentos. Isso vale para provisões e cálculo de valor recuperável de ativos ("impairment"), por exemplo.

 

Embora alguns leitores dos balanços de lá considerem relevantes as informações, há o entendimento de que a linguagem usada é muito técnica e pouco acrescenta para os "não iniciados" em normas contábeis.

 

Ao comentar o exemplo da França, Valdir Coscodai, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC) no Brasil, diz que é preciso encontrar um equilíbrio. "Para alguns usuários, por mais que você divulgue mais informações, elas nunca serão o bastante", diz.

 

Em relação ao trabalho de auditoria, Coscodai destaca o fato de o Brasil ter adotado a partir deste ano as novas normas internacionais para a profissão, antes mesmo de países como França, Alemanha, Espanha e Itália. "Realmente isso é algo para nos orgulharmos", afirma.

 

Schilder foi questionado sobre a possibilidade de se pagar mais ao auditor e exigir que ele assegure que todas as informações do balanço são verdadeiras e corretas – em vez de dizer apenas que, nos aspectos relevantes, elas estão de acordo com as normas. E ele respondeu: "Mesmo se isso fosse possível, o balanço acabaria saindo atrasado, meses depois do que sai hoje, e continuariam as incertezas. Além disso, não somos polícia e não podemos obrigar a administração a nos mostrar documentos secretos."


Fonte Auditores planejam mudança em parecer – Fernando Torres – Valor Econômico – via FENACON


Comentários feitos de César Tibúrcio (Blog Contabilidade Financeira)

[1] Existe um trabalho sobre o assunto feito por professores da UFBA e publicado recentemente em congresso.

[2] Isto realmente é verdadeiro. E parece que cada vez mais o parecer tenta "esconder" isto.

[3] Tenho dúvidas se isto funciona. Se tivesse que fazer uma sugestão, acho que o modelo de exposição do risco da empresa também poderia ser adotado pela empresa de auditoria. Esta empresa deveria considerar os possíveis riscos envolvidos no seu trabalho e as medidas que foram adotadas para evitá-los. Outra discussão, não contemplada no texto pois não interessa ao Iaasb, é o pagamento da auditoria ser feito pelo regulador, e não pela empresa auditada.


 

Editoria: Prof. Alexandre Alcantara