Regulador americano investiga auditorias

Mercado de capitais: A SEC está examinando problemas contábeis e de divulgação de empresas chinesas.
 

Michael Rapoport | The Wall Street Journal
 

 

A comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, SEC, começou a investigar algumas firmas de auditoria por causa de suas verificações das contas de empresas chinesas com ações negociadas no mercado americano. A expectativa é de que o inquérito produza queixas formais, disseram pessoas a par da situação.

 

A SEC deu indicações públicas de que está examinando questões contábeis e de divulgação relacionadas a empresas chinesas que realizaram "fusões reversas", que permitem que as companhias se registrem nas bolsas americanas sem se sujeitarem ao mesmo nível de fiscalização de uma oferta pública para abertura de capital. Pessoas familiarizadas com a questão dizem que a investigação também inclui auditores, algo antes desconhecido. Como parte do inquérito, a SEC suspendeu a negociação com ações de algumas empresas chinesas, questionando a veracidade de suas finanças e operações.

 

O Conselho de Supervisão Contábil das Companhias Abertas dos Estados Unidos informou que também está investigando algumas firmas de auditoria para verificar se elas são rigorosas o bastante com os clientes chineses. O órgão, conhecido pela sigla PCAOB, é a autoridade do governo que fiscaliza a contabilidade.

 

As investigações das agências governamentais envolvem tanto grandes quanto pequenas auditorias. Não se sabe quais firmas são parte do inquérito.

 

Se as autoridades encontrarem violações, podem abrir processos administrativos contra as firmas de auditoria com base em alegações como conduta profissional imprópria, e a SEC pode abrir processos civis também. Não está claro quando as agências podem agir.

 

O PCAOB afirma que as auditorias são às vezes fracas em parte por causa de obstáculos que tornam difícil para ele detectar problemas: algumas firmas de auditoria dos Estados Unidos terceirizam trabalho contábil para firmas de contabilidade chinesas não treinadas adequadamente, e a China proibiu que o PCAOB inspecionasse as auditorias no país, embora o presidente do conselho, James Doty, diga acreditar que a questão das inspeções possa ser resolvida este ano.

 

"No momento, a auditoria e regulamentação das empresas chinesas negociadas nos Estados Unidos não estão funcionando muito bem", diz Paul Gillis, um professor visitante de contabilidade na Escola de Administração Guangha da Universidade de Pequim.

 

Nas fusões reversas, uma empresa estrangeira é "comprada" por uma empresa americana de fachada negociada em bolsa. Mas a empresa estrangeira assume o controle e fica com o registro em bolsa da empresa de fachada sem o nível de fiscalização que teria se fizesse uma oferta pública inicial. Embora as empresas de outros países também realizem fusões reversas, essas transações são especialmente comuns entre as chinesas. O PCAOB afirma que quase 75% das companhias chinesas que se registraram nas bolsas americanas de 2007 ao início de 2010, um total de 215, fizeram isso via fusão reversa.

 

Desde fevereiro, cerca de 40 empresas chinesas reconheceram problemas contábeis ou tiveram a negociação de suas ações suspensas pela SEC ou pelas próprias bolsas por questões contábeis.

 

As firmas americanas que auditam as companhias chinesas são na maioria pequenas, algumas tentando ativamente satisfazer o mercado chinês, uma grande fatia de sua base de clientes. De 2008 ao início de 2010, pelo menos 40 firmas de auditoria americanas com menos de cinco sócios e dez funcionários emitiram pareceres sobre empresas sediadas na China, segundo o PCAOB.

 

A investigação deixa essas auditorias numa posição difícil: algumas firmas cujos clientes chineses tiveram sua contabilidade questionada afirmam que fazem tudo o que podem para realizar auditorias rigorosas, como manter seus próprios escritórios na China e empregar pessoal bilíngue, e elas estão intensificando os esforços para detectar contabilidade inadequada.

 

Mas isso suscita dúvidas sobre se seus esforços do passado foram rigorosos o bastante, especialmente entre alguns investidores que criticaram bastante algumas empresas chinesas.

 

O PCAOB afirma que algumas auditorias americanas que terceirizam boa parte de seu trabalho in loco a auditores chineses não estão se assegurando de que o trabalho cumpre os padrões contábeis americanos.

 

Em 2009, o conselho proibiu uma firma do Arizona, a Clancy & Co. PLLC, de auditar companhias abertas, em parte por causa disso. Em abril, o PCAOB proibiu a Chisholm Bierwolf Nilson & Morrill LLC, de Utah, em parte por causa de problema parecido. O conselho afirmou que a Chisholm Bierwolf contou com seus inexperientes assistentes que falam chinês para ajudar a auditar clientes chineses sem supervisioná-los adequadamente. As firmas não puderam ser contatadas para comentar o assunto.

 

A proibição à Chisholm Bierwolf é permanente. No caso da Clancy, ela podia voltar a pedir autorização para auditar depois de um ano, mas não há nenhuma indicação de que o tenha feito.


Fonte: Valor Econômico


Editoria: Prof. Alexandre Alcantara