EUA reduzem apoio financeiro ao IFRS
Por Fernando Torres | De São Paulo
Empresas e entidades dos Estados Unidos reduziram em 30% as doações para a Fundação IFRS em 2012. Em termos absolutos, a contribuição de 1,22 milhão de libras no ano passado foi a menor desde 2007, quando a divulgação passou a ser feita pela entidade responsável por manter financeiramente o Iasb, órgão que elabora as normas contábeis internacionais.
Os donativos americanos representaram no ano passado apenas 5% da receita total da Fundação IFRS, em comparação com um percentual que chegou a ser de 12% em 2007 e vem caindo ano a ano desde então.
A redução das doações dos EUA parece um reflexo da falta de engajamento do país em relação ao processo de convergência para um único padrão contábil global, que está cada vez mais próximo de ficar só no mundo das ideias.
Em 2011, a Financial Accouting Foundation (FAF), que mantém o Fasb, órgão responsável pela normas contábeis dos EUA, doou 300 mil libras para ajudar a manter o Iasb. No ano passado, o repasse não se repetiu.
Como resume bem um dos ditados preferidos dos profissionais de investimento – "Put your money where your mouth is" -, se a pessoa realmente acredita no que fala, ela deve estar suficientemente confiante para arriscar seu próprio dinheiro naquilo que defende.
Nesse caso, a redução da verba doada por empresas e entidades dos EUA apenas acompanha a mudança no discurso de autoridades que ocorreu principalmente ao longo de 2012.
Atarefada com a implantação de inúmeras novas regras decorrentes da crise financeira de 2008 e envolta em disputas políticas, a Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado de capitais americano, não toca mais no assunto IFRS, embora sua ex-presidente Mary Schapiro tivese prometido uma decisão sobre convergência ou não até 2011 e depois até 2012.
E tanto os responsáveis pelo IFRS como o Fasb já admitem oficialmente que não há espaço para convergência total entre o padrão internacional e o US Gaap.
Nos relatórios anuais das fundações que cuidam de Fasb e Iasb, divulgados na semana passada, fica claro que, encerrados os projetos conjuntos atuais que buscam a aproximação dos padrões nas áreas de receita, instrumentos financeiros, arrendamento e seguros, cada órgão seguirá carreira solo.
Não quer dizer que a busca por convergência vai acabar, mas cada entidade fará seu trabalho de forma independente.
"Na minha visão, convergência significa trabalhar cooperativamente para alcançar padrões consistentes, e não ter um método ou técnica particular para se atingir isso", diz Leslie Seidman, em sua última carta na condição de presidente do Fasb.
Já o presidente do Iasb diz, em tom de consolo que, "embora a convergência completa não tenha sido possível em todas as áreas", o trabalho conjunto com o Fasb "harmonizou e melhorou as regras sobre demonstrações financeiras globalmente".
Os dois lados comemoram o fato de terem chegado a um ponto comum sobre as normas que tratam de reconhecimento de receita e de arrendamento, o que não pode ser desprezado. E ainda têm a expectativa de que a norma sobre seguros será unificada.
Mas o dissenso envolvendo a classificação e mensuração de instrumentos financeiros e também o registro de perda por inadimplência com esses papéis pode ser suficiente para que permaneçam divergências relevantes entre os balanços dos Estados Unidos e do resto do mundo.
Nesse aspecto, ainda existe uma esperança de que, após o período de audiência pública, as respostas dos interessados levem algum dos lados (ou os dois) a ceder em favor de um projeto comum.
Olhando para frente, as duas partes defendem a manutenção de um canal de comunicação sempre aberto, para evitar que a convergência alcançada não se perca. "É importante agir para garantir que os padrões que convergiram não voltem a divergir no futuro, a medida que novos assuntos surjam nos próximos anos", dizem Jeffrey J. Diermeier, presidente do conselho de curadores da FAF e Teresa S. Polley, diretora-executiva da entidade no relatório anual.
E um dos caminhos para isso será por meio da participação do Fasb no Accounting Standards Advisory Forum (Asaf), que é um fórum recém-criado pela Fundação IFRS para servir como uma espécie de conselho consultivo do Iasb. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), do Brasil, também tem assento no Asaf.
Enquanto isso, escasseiam os recursos para manter o Iasb. O que evitou que o órgão apresentasse déficit em 2012 foi um forte corte de despesas, especialmente com viagens, e também a doação de € 4 milhões da Comissão Europeia. Uma quantia semelhante está aprovada para 2013, mas não para os anos seguintes. CPC e Banco Central doaram 229 mil libras, mesma quantia de 2011.
Fonte: Valor Econômico, via FENACON