Estrutura de Capital: Caso Multiplus

Índice

Multiplus

por Adriana Aguiar

Três textos sobre a empresa Multiplus foram publicados no Valor Econômico de 11 de março de 2011. Os textos comentam sobre a redução de capital da empresa no valor de R$600 milhões:

 
 

Raras empresas estariam dispostas a abrir mão de R$ 600 milhões, o equivalente a 87% do seu patrimônio líquido, decisão tomada pela Multiplus, empresa que opera programas de fidelidade, por meio de uma redução de capital. Ainda mais inusitado é o fato de a medida ter sido adotada um ano depois de a empresa ter feito um aumento de capital praticamente do mesmo valor, R$ 692 milhões. A explicação oficial é que o “capital social subscrito é atualmente considerado alto e sua redução oferecerá perspectivas de otimização da estrutura de capital em favor do acionista”.
Multiplus faz redução de capital de R$ 600 milhões – Fernando Torres – Valor Econômico – 11 de março de 2011

 
A explicação da otimização da estrutura de capital é controversa, já que a teoria de finanças afirma não existir uma estrutura ótima. Na realidade, ao diminuir o capital próprio a empresa estaria mais alavancada.
 
O texto tenta encontrar as razões para decisão da empresa. A principal delas parece ser tributária:
 

De início, a Multiplus não precisaria ter feito uma oferta primária de ações no ano passado, com conseqüente aumento de capital, quando a controladora TAM decidiu desmembrar a companhia e colocar as ações em bolsa. Isso porque o dinheiro arrecadado na oferta foi praticamente todo usado na compra de passagens de forma antecipada da própria TAM que ainda possui 73% do capital da empresa de fidelidade. Se o interesse era abrir o capital dessa divisão de negócios e ao mesmo tempo reforçar seu caixa, a companhia aérea poderia ter feito uma oferta secundária de ações da Multiplus, obtendo os mesmos R$600 milhões que recebeu via compra de passagens.
 Ao optar pela oferta primária, a TAM não precisou pagar imposto de renda sobre ganho de capital, que seria necessário caso tivesse decidido vender uma fatia da Multiplus na distribuição secundária. Como o patrimônio da empresa de fidelidade era quase zero, a conta seria salgada. (…)

 
A segunda razão seria o fato da empresa ter gerado muito caixa no exerício passado, sem um grande lucro líquido. A distribuição de dividendos estaria limitada pelo lucro, que foi reduzido; para compensar, a empresa fez a redução de capital. Ou seja, a operação seria uma distribuição de dividendos disfarçada:
 

A Multiplus teve geração de caixa de R$919 milhões no ano passado, enquanto o lucro líquido somou apenas R$118 millhões.
 Por ser uma empresa nova, sem lucros acumulados, a companhia não tinha como pagar nada além dos 118 milhões na forma de dividendos.
 A diferença entre a geração de caixa e o lucro se explica não só pela antecipação de compra de passagens prêmio da TAM, evitando desembolsos que ocorreriam normalmente, como também pelo sistema de reconhecimento da receita da companhia.Embora a Multiplus receba o caixa quando vende os pontos às parceiras, a receita e o correspondente custo só são registrados quandos os pontos são resgatados.Multiplus abre mão de caixa – Fernando Torres – Valor – D1

 
Finalmente o texto tenta explica a questão dos pontos não usados:
 

Os pontos esquecidos e perdidos pelos participantes do programa de fidelidade responderam por 23% do faturamento da Multiplus no ano passado. A companhia registrou receita de R$122 milhões em 2010 por conta do vencimento de pon tos não resgatados. E essa entrada não tem nenhum custo como contrapartida, explica o professor Ricardo Almeida, do Insper, o que significa que o efeito aparece diretamente no lucro. O nome usado para tratar desse despedício de pontos é taxa de “breakage”, que fechou o ano passado em 22,6%, considerando o período de 12 meses.
 (…) Apesar do bom resultado gerado atualmente, a própria Multiplus afirma, no relatório que fala dos números do quarto trimestre, que essa taxa “tende a apresentar uma tendência natural de queda no longo prazo (…)” (…) Os anlista do BTG Pactual projetam que essa taxa ficará em 19% no longo prazo.
Pontos sem resgate viram receita na Multiplus – Fernando Torres – Valor Econômico – 11 de março – p. D3

 
Isto não parece ser realmente um problema. 

Fonte: Blog Contabilidade Financeira (César Tibúrcio)


Editoria: Prof. Alexandre Alcantara