Decisões locais colocam ‘língua universal’ em risco

Decisões locais colocam 'língua universal' em risco

por Nelson Niero | De São Paulo – Valor Econômico – 2 de março de 2011

 

Está ruim, mas está bom. Em essência, é mais ou menos isso que os auditores independentes vão escrever nos pareceres sobre os balanços das construtoras.

Pelo tempo que se gastou na discussão sobre quando se deve reconhecer a receita de venda de um imóvel, a pressão foi grande. O lobby das construtoras interessadas nas benesses contábeis do sistema anterior não é surpresa. O que pode ser mais difícil de entender é a posição da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), guardiã da boa informação financeira.

O fato é que se decidiu pela criação de uma vertente das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS, na sigla em inglês) de acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis brasileiro. Com isso, os balanços só serão comparáveis com os das construtoras da Malásia e da Índia. Já é uma evolução, diriam os mais otimistas.

Os arautos do IFRS, que discutem os destinos da língua universal da contabilidade em Cannon Street, no coração financeiro de Londres, têm questões maiores com as quais se preocupar desde que os banqueiros resolveram culpar os contadores pela crise financeira. Ainda assim, eles sabem que pequenas rachaduras podem causar grandes estragos.

A grande promessa do IFRS é dar aos investidores o poder da comparação. Idealmente, significa colocar numa planilha os números das principais empresas globais de um dado setor e tirar conclusões consistentes sobre eles. Se for preciso salpicar asteriscos para fechar a conta, os céticos, principalmente nos Estados Unidos, não vão deixar barato.

Fazer com que o maior mercado de capitais do mundo adote o IFRS é de longe o maior desafio para que a promessa se cumpra. Há críticos o bastante no país fazendo campanha para que isso nunca aconteça.

O americano Dennis Nally, presidente mundial da auditoria PwC, disse em entrevista recente ao Valor que acredita na necessidade de se caminhar para um sistema único. No entanto, é preciso garantir que haja consistência dos padrões. "É crucial a questão da independência do processo de adoção das normas em relação a pressões políticas, por exemplo", afirmou. "Se cada país puder modificar as normas, então voltamos ao ponto de partida." 

Via Blog Contabilidade Financeira 

 


Contabilidade : Empresas poderão manter regras anteriores na elaboração dos balanços

Valor Econômico – Denise Carvalho e Fernando Torres | De São Paulo – 2/3/2011
 

As auditorias chegaram a um consenso e não devem fazer ressalvas nos balanços das incorporadoras imobiliárias brasileiras que ainda adotarem as regras de contabilidade antigas para registrar no balanço o reconhecimento de receitas de vendas de imóveis na planta. Esse é um dos últimos temas de polêmica envolvendo a adoção do padrão internacional de contabilidade, o IFRS, pelo Brasil.

(…) Isso quer dizer que as auditorias vão dar parecer "limpo" – que significa em conformidade com a lei – para as incorporadoras que apresentarem seus números no chamado método POC (sigla em inglês do termo Percentage of Conclusion).

Por esse critério, as empresas imobiliárias reconhecem a receita de venda de imóveis residenciais de acordo com o percentual de andamento da obras.

Na prática, o consenso "permite" às auditorias contrariar o entendimento mais comum sobre o modelo contábil internacional IFRS, que passou a ser obrigatório no Brasil nos balanços referentes a 2010 e que são divulgados agora. No padrão IFRS, as incorporadoras costumam reconhecer a receita da venda de um imóvel toda de uma vez, no momento da entrega das chaves.

Essa regra é obrigatória mesmo para as empresas que tenham recebido parcela significativa do pagamento das vendas dos imóveis durante as obras.

(…) Conforme pessoas a par das reuniões que levaram as auditorias e a CVM a um consenso sobre os pareces, em vez de afirmar que os demonstrativos desobedecem os padrões do IFRS, conforme determinação do Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb), os auditores afirmarão que as normas seguem o IFRS, de acordo com as regras do Comitê de Pronunciamentos Contábeis.

Traduzindo ao pé da letra, o consenso deve evitar o desgaste das auditorias com os clientes, por conta de ressalvas, e com a CVM, que permitiu às incorporadoras usar o padrão POC.

Durante todo o ano de 2010, as incorporadoras imobiliárias brasileiras pressionaram os agentes reguladores para que a publicação dos balanços seguindo o padrão IFRS fosse prorrogada ou que as regras contábeis fossem mantidas. Venceu a segunda opção.

O que está por trás da resistências das incorporadoras em adotar o reconhecimento da receita nas chaves é o impacto que as novas regras provocariam nos seus resultados. Segundo estudo feito pelo banco Credit Suisse, em outubro de 2010, o percentual de queda nos resultados das empresas variaria entre 21% e 33% sobre as previsões do banco para 2011. O declínio médio seria de 28%.

(…) Caso o Ifric chegue à conclusão sobre essa polêmica e se manifeste, o Brasil deve adotar essa determinação, seja quando for. Se ficar claro que o reconhecimento da receita deve ser feito pelo POC, os auditores poderão dizer que os balanços seguem o IFRS conforme emitido pelo Iasb. A ênfase, então, deixa de constar no parecer.

Caso contrário, caberá às empresas mudar a contabilidade para registrar a receita somente no momento da entrega das chaves, se não quiserem ter parecer adverso dos auditores.


Editoria: Prof. Alexandre Alcantara