Polêmica sobre valor justo persiste
Henri Fortin, especialista em gestão financeira do Banco Mundial, viu a onda se aproximando. Em outubro, ele afirmou à repórter Graziella Valenti que a crise era o primeiro grande teste para as normas internacionais de contabilidade. “Não haverá surpresa se o resultado disso for muita discussão.”
Surpresa nenhuma, principalmente porque empresas em perigo como a seguradora American International Group (AIG) já vinham pedindo meses antes que a chamada contabilidade do valor justo fosse “repensada”. Depois de muita discussão e um lobby milionário dos bancos, assim foi feito, quando o Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira (Fasb) “flexibilizou” as regras de marcação dos ativos a mercado.
Foi um baque para os “puristas da contabilidade que sonharam com um sistema de valor justo pleno”, admitiu Fortin, que falou com o Valor por telefone, de Washington. Ele enfatizou que não há nada de depreciativo no termo “purista”, porém ressalta que parte das críticas feitas pelas instituições financeiras tem fundamento.
Uma das lições da crise, afirmou, tem a ver com o ritmo de implantação das normas contábeis, especialmente as mais espinhosas. “É preciso uma preparação maior, um acompanhamento mais de perto, para que essas normas possam ser aplicadas”, disse. “O valor justo é um marco, mas não vai ser a única resposta.”
No entanto, ele criticou os que colocam em dúvida a necessidade de um padrão internacional de contabilidade. “Não pode haver retrocesso.”
Henri Fortin esteve no Brasil na semana passada para divulgar a 3º Conferência sobre Contabilidade e Responsabilidade para o Crescimento Econômico Regional (CReCER), promovida pelo Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Federação Internacional dos Contadores (Ifac, na sigla em inglês).
O evento vai ser realizado de 23 a 25 de setembro, em São Paulo, exato um ano depois da quebra do banco Lehman Brothers, o marco zero “oficial” da crise. Fortin acha que é o momento ideal para a discussão do tema, porque há menos “emoção” cercando o assunto. “Achamos que é o momento de restaurar a confiança nos mercados”, afirmou. (NN)
Fonte: Valor Econômico (01/07/2009), via Fenacon