Falta informação nos relatórios corporativos
Pesquisa da Deloitte apontou pouca padronização e poucos dados de estratégias de longo prazo, governança e riscos
por Marília Almeida
Brasileconomico
via FENACON
Faltam informações nos relatórios oferecidos pelas empresas a seus investidores. Esta é a visão de 51% dos profissionais da área de relações com investidores de 42 empresas brasileiras (67% delas com receita de mais de R$ 1 bilhão), ouvidos pela Deloitte e o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) entre abril e maio deste ano. Apesar de 49% dos profissionais apontarem que as informações contidas nos relatórios são suficientes, 31% dizem que poderia haver mais qualidade e 15% mais acesso às informações, enquanto 5% acreditam que não são suficientes.
Entre as críticas, informações extensas e que não dizem muito, falta de padronização e informações sobre estratégias de longo prazo, governança corporativa e gerenciamento de risco da empresa. Bruce Mescher, sócio da Deloitte, aponta que, após a introdução do padrão internacional de contabilidade (IFRS) e dos formulários de referência no país, que deram maior transparência aos relatórios, é hora de melhorar a qualidade das informações. Para Ricardo Florence, diretor-presidente do Ibri, a tendência é que os relatórios fiquem mais objetivos. “É necessário entender a demanda dos investidores.” A pesquisa mostrou que a maioria das empresas apresentam relatórios extensos. Entre as ouvidas, 55% têm relatórios com mais de 75 páginas. “Os analistas podem não ter tempo de ler tudo isso. Dá para passar a mensagem ao mercado em menos páginas”, recomenda Mescher.
Entre as informações que merecem destaque no relatório, governança corporativa é citada por apenas 36%; mensagem ao mercado, por 33%; e informações sobre sustentabilidade, por 26%. “São assuntos em ascensão, que devem ganhar importância daqui para a frente”, lembra Mescher. Entre os entrevistados, 62% afirmam que publicam relatórios de sustentabilidade, percentual maior do que a média mundial (55%). Entre eles, 79% adotam as normas propostas pelo Global Report Initiative (GRI), e 17% se baseiam nas normas do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Das empresas que não publicam o relatório de sustentabilidade, 17% pretendem publicá-lo. “Há um amadurecimento do mercado. O Brasil criou uma cultura com relação ao relatório de sustentabilidade”, diz Mescher.
O número cai para 58% quando se trata de relatórios que integram o documento financeiro e administrativo com informações sobre sustentabilidade e ações sociais. Mas Mescher estima que este número seja ainda menor. “Eles são integrados de acordo com as próprias definições das empresas. Mas não basta ‘juntar’ relatórios. Tem que resumir e harmonizar informações”. Os que não utilizam a integração, mas querem implementá-la, somam 13%. No ano que vem, deve ser criado um modelo para relatórios integrados pelo IIRC, iniciativa global liderada pelo príncipe Charles, o que deve impulsionar a sua implementação e padronização nas empresas. Apesar de representativo, o número de participantes da pesquisa ainda é pequeno perto das cerca de 400 empresas listadas na bolsa. Mas isso não surpreende Mescher. “A discussão sobre o relatório de sustentabilidade levou tempo para chegar ao patamar atual. E o Brasil acabou de dar um passo importante para desenvolver relatórios ao implementar o IFRS. É natural que leve tempo para o mercado amadurecer com relação a boas práticas nos relatórios.”