Em que o investidor deve ficar de olho durante a temporada de balanços?

Em meio a tantos termos técnicos, economista detalha o que deve ser levado em consideração para uma análise e tomada de decisão bem fundamentadas por parte dos investidores

Artigo  de Lucas de Andrade na SpaceMoney

Lucro e prejuízo brutos ou líquidos, receita e dívida brutas ou líquidas, fluxo de caixa, EBITDA, entre outros. Pela terceira vez no ano, chegamos a mais uma temporada de balanços das empresas.

Durante esse período, investidores observam os resultados das empresas no último trimestre, avaliam a saúde financeira das companhias e decidem se pretendem se associar (ou continuar ligados) a elas ou não.

Mas por haver tantos termos técnicos e uma quantidade sempre muito grande de páginas em cada relatório, alguns investidores podem se sentir um pouco intimidados na hora de analisar os resultados e até mesmo cometerem equívocos.

Segundo Leandro Botelho, economista e gerente de projetos da Ipê Investimentos, o principal fator de análise das empresas está relacionado à capacidade de geração de caixa, principalmente no médio e longo prazo.

“O foco da análise de balanço tem que partir desta ótica. As métricas de análise são auxiliares a essa tarefa, mas podem ser enganosas em alguns casos, principalmente pelo motivo de que lucro e geração de caixa não são a mesma coisa”, diz.

Lucro, segundo Botelho, se trata de uma “convenção que segue determinadas regras para produzir uma estimativa de desempenho econômico”. Já a geração de caixa “significa algo muito mais concreto, pois representa, de fato, o que entra de dinheiro na empresa”.

De acordo com o economista, além de endividamento e de rentabilidade, há outros pontos muito importantes para o investidor estar atento. São elementos que Botelho afirma que podem ser “contra-intuitivos”. Veja a seguir:

Lucro é bom, mas fique atento às manobras

As estimativas de lucro mostram um resultado positivo no período, mas o economista explica que você também precisa entender que lucro alto gera imposto alto. “Então, as empresas podem adotar uma série de estratégias para que essa base tributária seja menor”, diz.

Botelho cita o ágio – cobrança adicional ao que foi estipulado ou tomado como valor oficial – na aquisição de empresas como exemplo disso.

“O ágio, muito importante nas operações de fusões e aquisições (M&As), pode ser abatido do lucro como uma despesa, mas não representa uma saída de caixa”, afirma.

“A empresa reduz a base tributária, logo representa o pagamento menor de imposto e maior geração de caixa, apesar do lucro apresentado ser menor. Há outras manobras contábeis similares que empresas tomam neste sentido”, alerta Botelho.

Nem sempre margem baixa é ruim

O crescimento das empresas, geralmente, está muito relacionado aos investimentos que são feitos. Eles representam gastos presentes com a expectativa de um retorno futuro.

Um dos detalhamentos que os balanços costumam trazer diz respeito ao CAPEX, que deriva do inglês Capital Expenditure e se refere às despesas de capital ou de investimento em bens de capitais.

Botelho explica que esses gastos com investimentos em estrutura física não interferem nas margens pois não entram nos cálculos para o lucro, mas cada vez mais empresas têm aplicado recursos em pessoas, publicidade, processos e tecnologia e em outras áreas.

“Tudo isso contabilizado como despesa se torna muito relevante. Portanto, principalmente em empresas de serviços e de tecnologia, as margens têm que ser analisadas com muito cuidado para se separar a despesa ruim, que representa baixa eficiência, da despesa boa, que significa investimento”, recomenda.

Analise o endividamento com cuidado

Quando falamos de endividamento, temos o costume de associar o termo negativamente porque temos a tendência de olhar com a ótica da economia pessoal onde dívida significa planejamento ruim.

Entretanto, para as empresas, as dívidas podem ser algumas das formas de se financiar a operação e até mesmo de uma maneira barata.

As companhias utilizam as dívidas para otimizar a estrutura de capital e trazer maior rentabilidade para os acionistas. “Ela pode ser uma forma de financiar investimentos sem a limitação de se utilizar apenas os lucros acumulados ou ter que realizar um follow-on (oferta pública subsequente de ações)”, explica Botelho.

Nesse caso, o economista afirma que o investidor deve analisar se o endividamento da empresa foi fruto de investimentos ou se está sendo utilizado para pagar despesas correntes por dificuldade da operação em gerar caixa para cobri-las.

Entenda primeiramente os setores

Botelho afirma que, para entender melhor o balanço de cada empresa, o investidor deve ter um bom conhecimento das normas contábeis da companhia, mas antes precisa entender a dinâmica sobre o funcionamento de cada setor.

“Margens, resultados e outros podem ter interpretações distintas em setores distintos, tanto pelo motivo de que a contabilidade possui especificidades em cada setor, quanto pelo contexto diferente da empresa que traz significados para interpretação do número”, diz.

Com isso em mente, o economista afirma que então faria sentido iniciar a análise pela performance operacional.

“Veja se o negócio da empresa tem sentido econômico, ou seja, se a atividade em si gera retorno. Daí então, olhe e compare com empresas similares as margens bruta, Ebitda, Return On Asset (ROA), geração de caixa, etc”, explica.

Após esse primeiro passo, Botelho diz que uma boa análise leva em consideração se a empresa financia bem sua operação com base em endividamento, índice de cobertura da dívida e estrutura do endividamento da empresa.

“Acho importante que os números não sejam analisados de forma mecânica, mas como elementos que dão pista de uma figura maior”, conclui.

Veja alguns dos principais termos utilizados nos relatórios das empresas

  • Lucro bruto: considera custos variáveis ligados à produção, como matéria-prima, que aumenta quanto mais é produzido.
  • Lucro líquido: considera todos os custos da empresa, sejam eles variáveis ou fixos, que incluem despesas, impostos e salários.
  • Receita bruta: quantidade de dinheiro que entra para a empresa, após a conclusão da venda de seus produtos ou serviços.
  • Receita líquida: resultado da receita bruta menos suas devoluções, impostos destacados na nota fiscal e os descontos comerciais.
  • Dívida bruta: considera a soma de todas as obrigações financeiras da companhia, em curto, médio e longo prazo.
  • Dívida líquida: indica o grau de endividamento de um negócio, ou seja, apura a diferença entre o dinheiro disponível em caixa para quitar empréstimos e financiamentos, e o quanto, de fato, a empresa deve.
  • EBITDA: A sigla inglesa de Earnigs Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, traduzida para o português, significa lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Indica quanto a empresa gera de recursos apenas em atividades operacionais, excluídos os efeitos financeiros e a incidência de impostos.
  • ROA: A sigla inglesa de Return On Asset, traduzida para o português, significa retorno sobre ativos.  Esse indicador revela o quão rentáveis são os ativos de uma companhia que estão em geração de receita e pode ser calculado como a razão entre o lucro operacional e os ativos totais.

Editoria: Prof. Alexandre Alcantara

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