A função fiscal do futuro
Como diagnosticar o nível de maturidade da função fiscal da organização?
Gustavo Amud, Manuel Marinho e Nelson Alves | Especial para A Cidade ON
Como diagnosticar o nível de maturidade da função fiscal da organização? Que técnicas podem ser aplicadas para dar eficiência aos processos? Quais os impactos da Reforma Tributária nesse ambiente? Estas e muitas outras questões permeiam o dia-a-dia de quem lida com a apuração e declaração dos diversos tributos a serem destinados ao Estado brasileiro. São profissionais que enfrentam pressões para reduzir custos e otimizar processos fiscais; melhorar a qualidade dos dados entregues às autoridades fiscais; e gerar valor em conjunto com as áreas de negócio.
Hoje, no entanto, a principal preocupação desses profissionais fica substancialmente concentrada no atendimento às demandas existentes com compliance fiscal, com pouco tempo para melhorias ou análises qualitativas de dados para suporte às áreas de negócio. É justamente para ampliar a capacidade de entrega e produtividade da função fiscal que todos seus níveis táticos e operacionais deverão assimilar novas competências, como análise avançada de dados, automação, metas de negócio em conexão com business e geração de valor, em um prazo de até cinco anos.
Diante deste cenário, as funções fiscais das organizações passarão a contar cada vez mais com profissionais capacitados em tecnologia, técnicas de automação, ciência de dados e gestão de projetos, não apenas para desempenho de atividades funcionais avançadas, mas, sobretudo, para atuação em projetos contínuos de transformação suportada em tecnologia, como parte da estratégia da área.
De todas essas áreas novas de capacitação da função fiscal, a automação de processos com robótica (Robotic Process Automation RPA) é a que mais vem recebendo investimentos, por conta do barateamento e acesso às tecnologias atualmente à disposição. E há organizações onde um grande número de robôs vem sendo postos em operação, gerando um ambiente funcional híbrido, com robôs e humanos.
O líder da operação híbrida de robôs e humanos deverá combinar habilidades fundamentais clássicas, como trabalho em equipe e conhecimento técnico, mas com uma mentalidade voltada para processos com baixa interferência humana e qualidade de dados.
Nesse estágio, a automação ainda pode ser vista como um instrumento de aumento de produtividade, posto que proporcionará ganhos de eficiência, redução de custos e minimização de riscos associados à qualidade de dados. Mas esse processo não para por aí. O desenho organizacional da função fiscal seguirá evoluindo e, em certo ponto, será inevitável que as organizações invistam em automação na camada analítica dos dados, valendo-se de técnicas de aprendizado de máquina (machine learning) e inteligência artificial (IA).
Este momento aproxima-se rapidamente e representa um patamar onde as respostas esperadas da função fiscal não se darão mais ao nível da produtividade e sim da competitividade, com altíssima capacidade de entendimento de cenários e adaptação a um ambiente volátil de informações.
Para seguir galgando patamares mais elevados de produtividade e competitividade, as organizações precisam avaliar a maturidade atual da função fiscal na companhia e como pretendem levá-la para o futuro, contemplando o individual e o coletivo. Precisam diagnosticar que processos estão em estágio evolutivo inicial e que medidas devem ser adotadas para alcançar um nível otimizado.
Com isso, poderão determinar ciclos de melhoria em uma escala coerente com a maturidade atual, os cenários desejados, os intervalos dos ciclos e os níveis de investimento possíveis, de forma coordenada com as demais áreas da organização. O momento de implementação de um plano contínuo de melhorias é a oportunidade ideal para capacitação de equipes, aprimoramento dos processos com as tecnologias adequadas e aprimoramento das práticas tributárias da organização.
Pela nossa experiência, 45% dos processos tributários podem ser automatizados, reduzindo os riscos para os profissionais da área. Além dos custos associados, o processo de automatização requer gestão contínua e eficiente para uma tomada de decisão mais assertiva, em especial agora onde o ambiente para uma reforma tributárias torna-se cada dia mais favorável.
- Gustavo Amud é sócio da PwC Brasil, com mais de 20 anos de experiência na área de auditoria. Graduado pela Universidade Santa Úrsula (RJ) no curso de contabilidade, com MBA em financiamento, auditoria e contabilidade pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
- Manuel Marinho é sócio da PwC Brasil e líder da prática de Tax Reporting & Strategy no Brasil, com 27 anos de experiência em projetos de consultoria dedicados a Função Fiscal, com graduação em Ciências Contábeis (Universidade Celso Lisboa RJ) e Direito (Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ) e MBA em Gestão Corporativa (Fundação Getúlio Vargas FGV), além de especialização em Direito Societário (IBMEC-SP) e Governança Corporativa (Fipecafi USP, SP).
- Nelson Alves é sócio da PwC Brasil, especialista em projetos de reestruturação societária e planejamentos tributários. Graduado em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Gerenciais (UNA/BH) e em Direito pela Universidade Paulista (Unip), pós-graduado em Direito Societário e Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pós-graduando em Direito Constitucional pela Unicamp.
Publicado originalmente em: https://www.acidadeon.com/campinas/docon/artigos/NOT,0,0,1485414,a+funcao+fiscal+do+futuro.aspx