IFRS: como anda a adoção nos EUA

IFRS: como anda a adoção nos EUA

Por Alexandre Alcantara

 

O Blog Contabilidade Financeira  (Prof. César Tibúrcio (UNB), e colaboradores) tem realizado uma série de coletâneas de matérias sobre o andamento da adoção das IFRS nos EUA. Todas as previsões já foram extrapoladas, e os EUA ainda não adotaram de forma obrigatória os padrões do IASB para suas empresas, sejam elas de capital aberto ou não. E parece que a adoção efetiva está muito longe de chegar ao fim. Os mais otimistas ainda estimam cinco anos para a adoção das IFRS nos EUA.

Para os aficionados por IFRS aqui no Brasil vale refletir, com muita cautela e imparcialidade. Será que o Brasil fez realmente bem em adotar as IFRS a toque de caixa? Por que um mercado com mais estabilidade, o maior mercado do mundo, está sendo cauteloso em adotar as IFRS? 

Como já escrevi em posts anteriores, ou no Brasil somos muito bons em contabilidade – que já vimos que IFRS é realmente bem melhor que USGAAP – ou os americanos, que até  bem pouco eram vistos como a fonte de toda sabedoria contábil por boa parte da academia brasileira, se perderam como referência contábil para estes no meio do caminho. Caso seja assim mesmo, será que somos bons assim mesmo?! 


Veja a seguir as matérias que selecionamos do Blog, algumas delas destacadas e comentadas pela equipe do Blog Contabilidade Financeira. 


Ainda a Ducha (19/07/2012)

Alguns dos aspectos do relatório da SEC sobre a adoção das normas internacionais merecem destaque:
a) Muitos países adotam as normas internacionais com algum tipo de mecanismo de endosso. As razões são várias, incluindo a necessidade legal para isto (talvez seja o caso do Brasil) ou manter o controle sobre os padrões contábeis. Isto naturalmente tem efeito sobre a comparabilidade e a influência das normas internacionais;
b) As US GAAP estão presente em regulamentos e contratos. A adoção das normas internacionais pode representar um grande problema legal;
c) Existem algumas grandes diferenças entre as normas dos EUA e a IFRS. As razões para estas diferenças são várias. O documento lista as principais diferenças, que inclui impairment, passivos não financeiros (e a questão da terminologia da palavra “provável”), mensuração de certos ativos, estoques (em particular a adoção do UEPS), pesquisa e desenvolvimento, impostos e ativo permanente. Além disto, as IFRS não contemplam normas específicas para setores como petróleo, enquanto os US GAAP possuem regulações próprias sobre o assunto;
d) A dicotomia entre princípios e regras também é analisada de maneira critica pelo documento. Em alguns trechos, o texto parece não concordar com esta dicotomia.
e) O relatório lembra que o EUA é o principal financiador do Iasb (e isto é verdade, já que segundo as últimas demonstrações do Iasb, este país doou 3,65 milhões de libras, de um total de 20,56 de doações, que corresponde a 18% do total de doação). E que o Iasb não está conseguindo sucesso em melhorar as fontes de financiamento. Além disto, o texto ressalta  a importância de se ter fontes de recursos estáveis e independente de contribuições de empresas contábeis e outras.

f) Cerca de 30 países participam financeiramente do Iasb. Como o número de países de adotam, de alguma maneira, as normas internacionais ultrapassa a cem, isto significa que 75% dos países que adotam não fazem qualquer tipo de contribuição (um parênteses nosso: na América Latina só o Brasil faz doações para o Iasb). 


Mais Ducha

Esta semana – dias depois que a Securities and Exchange Commission dos EUA deixou claro que não irá mover em breve na direção a adoção de padrões internacionais – as duas entidades se encontraram em desacordo sobre uma das questões mais controversas para sair da crise financeira: como os bancos devem contabilizar os empréstimos ruins.

As duas entidades fecharam acordos provisórios na primavera deste ano – eu vou chegar a alguns dos detalhes mais tarde – mas Leslie Seidman, presidente da SEC disse numa reunião conjunta das duas entidades que reguladores bancários e outros manifestaram preocupação com as regras e que ela queria mais tempo para trabalhar com orientações e detalhes.

“Isso é profundamente embaraçoso”, respondeu Hans Hoogervorst, o presidente do conselho internacional, que se reunia em Londres e estava ligado por vídeo-conferência para a reunião do conselho da American em Norwalk, Connecticut. Ele disse temer que “essa coisa toda vai desandar” depois de três anos de esforço.

Accounting Détente Delayed – New York Times – Floyd Norris – 19 jul  2012


Mais Ducha 2  (20/07/2012)

Na quarta-feira, o International Accounting Standards Board (IASB) e a sua congênere dos EUA, o Financial Accounting Standards Board (FASB), realizaram uma reunião conjunta para discutir o problema.

Vamos poupar o suspense. Ele terminou em lágrimas.

(…) IASB e FASB têm-se centrado no desenvolvimento de um modelo de perda esperada que forçaria os bancos a reservar o dinheiro para perdas antecipadas – ou seja, antes dos empréstimos realmente começam a piorar.

Mas a reunião de quarta-feira terminou com o FASB se afastando da proposta.

‘If this is going to unravel…’ – Tracy Alloway – Financial Times

Para o leitor do blog, apresento abaixo a transcrição do diálogo entre Seidman (do FASB) e Hoogervorst (do IASB) – também citado na postagem anterior:

HH: (…) I would also like to say that, if this is going to unravel, I find it for us as standard setters, not just us but also for you, I think it is deeply embarrassing. That in three efforts, in which we have looked at at least ten alternatives, in which we have left no stone unturned, that after three years we are still not able to come up with an answer. I would really find that unacceptable. So I would really hope that when your staff does this outreach they do it with an attitude of getting things fixed and not to let it unravel.
LS: Hans in response to that I would say that as standard setters our due process procedures are to discuss our evolving conclusions with stakeholders and make sure that they perceive it as an improvement in financial reporting, and that they can understand it… and the message I would send to those stakeholders is that we have heard the widespread confusion and questions and we plan to address them before we move forward with an exposure draft. I think the time we will take over the next couple of months to bring clarity to this situation will end up with a more efficient process than were we to go out with an ED now, as desirable as that might be, with a clear understanding now of the feedback that we expect to hear. Our desire here is very much still to try and reach as converged solution here as quickly as we can but in light of the very basic feedback we have heard we feel it is our responsibility to address this.
HH: Well I would just like to remind you that when our colleagues the prudential regulators, who created Basel 3 I think two years ago, when they came to their final conclusions they had the whole banking industry kicking and screaming telling them that the whole thing would go under. I don’t hear that now from our constituents. We still hear questions but none of them are such questions that we have a feeling that we are completely on a dead end street. All I want to say that at some point you have to come to conclusions, and if we are not able to come to conclusions after three attempts, and need yet another attempt in which I cannot think of any alternatives that we have not looked at yet, then we really have done our job very poorly.


Convergência Distante (25/05/2012)

A revista The Economist discute a dificuldade de fazer a harmonização contábil mundial (Eternal Convergence). Ao contrário do discurso otimista do Iasb e dos seus defensores, a harmonização contábil está muito distante, ainda. O texto destaca uma conferência realizada em Nova Iorque no dia 3 de maio, onde o Fasb e SEC usaram o termo “endosso”. A ideia é que o Fasb trabalhe com o Iasb na produção de normas, mas que diferenças existentes possam ser aceitas de ambas as partes. 

Em outras palavras, os Estados Unidos podem adotar as IFRS (normas internacionais de contabilidade), mas naquilo que achar que seu interesse será prejudicado com as normas, as mesmas não serão endossadas. 

Conforme lembra a revista, isto não é uma exceção. Pelo contrário, muitos países, inclusive o Brasil, usam desta estratégia de endossar as normas internacionais.


Prazo Curto (09/05/2012)

A implantação do IFRS (International Financial Reporting Standards), conjunto de normas que padronizam os procedimentos contábeis em nível internacional, costuma ser bem avaliada pelas empresas do País. Contudo, nem todas parecem estar satisfeitas com o prazo estipulado para o início do novo sistema.
Segundo um levantamento da WK Sistemas, por exemplo, das 398 pessoas consultadas pela pesquisa, 65,1% defendem que as empresas precisam de mais tempo para se adaptar às novas regras. Já para outros 46% dos respondentes, o novo sistema deveria vir acompanhado de ações do governo. (…)

Continue lendo aqui. Realmente o prazo de implantação foi (é) muito curto. Observe na postagem de hoje que os EUA estão prevendo mais de cinco anos de prazo. Fizemos em menos tempo.


Convergência (09/05/2012)

Sobre a convergência, Huw Jones, da Reuters, discute (Analysis – U.S. demands overshadow accounting prize) a questão do prazo para que a mesma esteja concluída. Jones lembra que os ministros do G20 deram um prazo até meados de 2013 para sua conclusão. Este prazo representa 30 meses além do prazo original.

A questão é que este prazo depende da posição dos Estados Unidos. Segundo um executivo da Grant Thornton, tudo indica que as eleições presidenciais de novembro pode influenciar na posição daquele país. Além disto, a decisão dos Estados Unidos depende da garantia de que terão liberdade para mudar as normas contábeis quando forem adotadas no país.

Esta também parece ser a posição da Índia, que também não adotou as normas internacionais. Ao mesmo tempo, parece existir um incentivo, por parte do Iasb, para formação de blocos de países regionais. É o caso de um grupo de países da Ásia e o pequeno grupo da América Latina. Como normas internacionais são feitas com poucas pessoas, o agrupamento de países teria assento no Iasb em lugar de lugares cativos, como ocorre hoje. Entretanto, isto enfrenta oposição de alguns países europeus.

Assim, talvez a posição do Brasil em adotar as normas antes tenha retirado seu poder de barganha junto ao Iasb. Ao mesmo tempo, o esforço em formar parceria com Argentina, Venezuela e outros países da América Latina, possa reduzir nossa influencia no Iasb, não aumentá-la.

Voltando a questão dos Estados Unidos, parece muito claro que a adoção das normas internacionais por parte daquele país deve ser feita no médio e longo prazo. Numa entrevista para Bloomberg, o contador da Microsoft afirmou acreditar que o processo deverá demorar de cinco a sete anos e que pode ser maior ainda. Isto decorre do profundo impacto que a adoção terá na empresas daquele país.


Editoria: Prof. Alexandre Alcantara