Agora é o BC quem diz: a Deloitte falhou
Auditoria foi incapaz de detectar procedimentos que deram origem à fraude do PanAmericano.
Por Cláudio Gradilone
No dia 13 de agosto de 2010, uma sexta-feira, o banco PanAmericano divulgou os resultados do segundo trimestre, sem nenhuma ressalva da empresa de auditoria, a Deloitte.
Três meses depois, o rombo nas contas do banco era estimado em R$ 2,5 bilhões. Na quarta-feira, 16 de fevereiro, ele já havia crescido para R$ 4,3 bilhões. Ao divulgar os resultados, Celso Antunes da Costa, diretor-superintendente do banco, mostrou só os dados de novembro e dezembro.
Ele explicou, candidamente, que o balancete do terceiro trimestre não é para ser levado a sério. “Publicamos porque fomos obrigados, mas não fazemos nenhuma comparação com os resultados dos exercícios anteriores, pois eles são inconsistentes”, disse Costa.
Depois de passar três meses torturando os números, os executivos concluíram que os dados que vinham sendo divulgados nos últimos anos não valiam o papel em que eram impressos.
“Acreditamos que a fraude tenha começado a ser montada em 2005 ou 2006 e se ampliou após a crise financeira de 2008”, disse Costa. O fato de a auditoria não ter percebido um problema de R$ 4,3 bilhões incomoda alguém?
Incomoda, sim: o Banco Central (BC). O inquérito sobre o caso do banco que pertencia a Silvio Santos indica que a Deloitte não adotou procedimentos adequados para detectar a fraude e as suas responsabilidades estão sendo apuradas. O BC não comenta o inquérito.
A Deloitte também não fala. Na época da divulgação dos primeiros problemas, o sócio Maurício Pires Resende declarou que a empresa havia sido convocada pelo BC no dia 9 de novembro para obter mais informações da administração do banco e buscar uma solução para o caso.
Procurado por DINHEIRO, Resende manteve o silêncio. A Deloitte limitou-se a enviar um comunicado não assinado por nenhum executivo dizendo que “refuta as acusações do BC” e que “conduziu todos os procedimentos recomendados na auditoria realizada para o banco PanAmericano.”
Além disso, a empresa informou que havia uma fraude maciça no banco, elaborada pela administração para enganar acionistas e auditores. “Os procedimentos definidos pelas normas de auditoria não têm por objetivo detectar fraude de tal complexidade”, diz a nota da Deloitte. Fica combinado, então: os clientes auditados pela empresa só podem elaborar fraudes simples.
Fonte: IstoÉ Dinheiro – Veja a matéria do Estado de São Paulo