Maquiagem nas contas do Carrefour
Auditoria de rombo do Carrefour é a mesma do PanAmericano
Por Mariana Barbosa/Carolina Matos
(Folha São Paulo – 01.12.2010)
A auditoria nas contas do Carrefour Brasil detectou um rombo contábil de R$ 1,2 bilhão. O valor é o triplo do que foi reconhecido em outubro pela matriz francesa, de R$ 400 milhões.
Em julho, a revelação de irregularidades nas contas da rede varejista no Brasil provocou a saída do então presidente, Jean Marc Pueyo, e de toda a diretoria.
Também provocou o rompimento do contrato com a auditoria Deloitte, a mesma envolvida no escândalo do banco PanAmericano.
A Deloitte foi responsável por auditar as contas do Carrefour nos cincos anos até 2009. Auditou, portanto, as contas de toda a gestão de Pueyo, que assumiu o cargo em 2006.
O prejuízo total da empresa foi revelado após a conclusão das auditorias interna e externa realizadas pela KPMG, contratada após a demissão de Pueyo.
Em entrevista a analistas ontem na França, o presidente mundial do Carrefour, Lars Olofsson, afirmou que o valor se refere a problemas apurados “nos últimos cinco anos ou mais”.
Em nota, o Carrefour diz que as perdas, que serão incorporadas como despesas não recorrentes em 2010, envolvem itens como ajustes de depreciação e provisões ligadas a litígios trabalhistas.
A Folha apurou que a maquiagem no balanço da rede varejista decorre de uma prática considerada comum no varejo brasileiro no passado, mas que não combina com as regras de governança.
Trata-se de descontar, das despesas, bonificações negociadas com a indústria na compra de produtos. Mas nem sempre os descontos se materializam, e o balanço registra como despesa um valor inferior ao gasto.
A mesma prática teria provocado a saída do presidente do Walmart Brasil, Hector Nuñez, também neste ano.
Procurada, a Deloitte nega irregularidades nas contas do Carrefour. “Se o problema fosse relativo a anos passados, eles não seriam contabilizados em 2010, mas seria necessário refazer os balanços anteriores”, diz Maurício Resende, sócio da auditoria.
Ele diz que tanto a Deloitte quanto a KPMG auditam contas do Carrefour globalmente e que sua substituição pela KPMG no país faz parte um rodízio determinado pelo cliente.
O Carrefour ressalta que há investigações em curso “que permitirão determinar a existência de possíveis responsabilidades”. Essa apuração, de acordo com a companhia, deverá ser concluída até o fim do ano.
Apesar das perdas, Olofsson declarou que o Brasil é prioritário e que os planos de expansão estão mantidos.
Fonte: Folha de São Paulo