Brasil adota IFRS, mas não paga conselho que emite as normas
independência.
Texto de Fernando Torres, Valor Econômico de 18/06/2010
O Brasil quer ter uma posição ativa e relevante dentro do Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB, na sigla em inglês), mas as empresas, entidades e o governo do país não doaram nem ao menos um centavo para custear as atividades do órgão durante o ano passado.
O curioso é que a ausência de contribuições ocorre justamente agora, quando as companhias brasileiras passam a adotar obrigatoriamente as normas internacionais de contabilidade, conhecidas como IFRS.
Fontes de financiamento estáveis, diversificadas e regulares são consideradas fundamentais para uma entidade como o IASB, para que ela se mantenha independente de pressões políticas e econômicas e possa definir as regras contábeis com base em uma análise técnica.
Em 2008, a única empresa brasileira que fez uma doação foi a Brasil Telecom, no valor de 7,5 mil libras. Em 2007, Bradesco, Itaú, BrT, Vale, Petrobras e Bovespa contribuíram, ao todo, com 133 mil libras para a fundação responsável pelo IASB, que tem sede em Londres, e é chamada de IASC Foundation.
O relatório anual dessa fundação, que inclui seu resultado financeiro, foi divulgado ontem pela entidade. Ao todo, a IASC Foundation recebeu contribuições no valor de 16,6 milhões libras em 2009, uma alta de 30% sobre o volume recebido um ano antes. Somadas as receitas com publicações, o faturamento total da entidade foi de 22,6 milhões de libras no ano passado,
com crescimento de 14% sobre 2008.
Após despesas com salários dos funcionários, gastos com reuniões e viagens e custos de publicações, a IASC Foundation fechou o exercício passado com um prejuízo operacional de 307 mil libras. Considerando também o resultado obtido com a marcação a mercado de suas aplicações financeiras, a fundação encerrou 2009 com lucro líquido de 647 mil libras.
Em 2008, apesar de o resultado operacional ter sido melhor, positivo em 528 mil libras, a IASC Foundation tinha registrado prejuízo de 1,7 milhão de libras, por conta de perdas com aplicações financeiras.
Os maiores doadores de 2009, como de costume, foram as quatro grandes firmas de auditoria – PricewaterhouseCoopers, Deloitte, Ernst & Young e KPMG -, que entregaram US$ 2 milhões cada uma para a fundação.
Considerando os países isoladamente, o que engloba doações de governos, entidades do setor e empresas, os Estados Unidos aparecem como o maior contribuinte individual para a IASC Foundation, apesar de o país não adotar o IFRS nos seus balanços.
Entre os maiores doadores dos EUA aparecem os bancos Citi, J.P. Morgan, Bank of America, Goldman Sachs e Morgan Stanley, e também a ExxonMobil e a Pfizer.
O IASB foi procurado, por meio de sua assessoria de imprensa, para comentar o resultado anual da IASC Foundation e também ausência de doações de empresas brasileiras, mas não respondeu.
O Brasil possui hoje oito brasileiros na IASC Foundation, sendo que o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan é um dos seus 22 curadores. São eles que indicam os 15 membros do IASB, entre os quais está atualmente um brasileiro, Amaro Gomes, ex-funcionário do Banco Central do Brasil.
Na visão do professor da FIPECAFI Nelson Carvalho, que já ocupou uma das cadeiras do IASB, a participação do Brasil dentro do órgão vem crescendo desde 1996. “Uma prova desse reconhecimento é o memorando de entendimentos assinado em janeiro”, disse ele, referindo-se ao documento firmado pelo IASB, pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
No Brasil, o órgão responsável pela emissão de normas contábeis usadas pelas companhias abertas, que é o CPC, também não tem fonte de receita fixa. Atualmente, o Comitê usa a estrutura disponibilizada pelo CFC para realizar as suas reuniões e atividades. A entidade de classe tem como receita as anuidades pagas pelos contadores.