Limites da ética profissional
Publicado no Jornal do Commercio
Por aqui, em terras tupiniquins, temos a nossa mal-afamada “Lei de Gérson”, seguida à risca pelas pessoas que gostam de levar vantagem em tudo. Novamente, e semelhante ao exemplo norte-americano, os asseclas desse princípio atropelam tudo que vêem pela frente, amparados por justificativas das mais diversas. Uma delas diz que o “mercado é quem manda” – uma expressão até certo ponto desprovida de guarda-chuva ético, dependendo do contexto em que é utilizada.
Relacionamentos profissionais bem-sucedidos são pautados por comportamentos que vão além da observância de normas legais. O ingrediente ético conta muito, além de cordialidade, respeito mútuo e acima de tudo, confiança, que é a espinha dorsal do capitalismo.
O eminente filósofo Peter Koestenbaum disse que “toda interação comercial ou de trabalho é uma forma de confronto – um conflito de prioridades, uma luta de dignidades, uma batalha de idéias”. Essa oportuna e feliz afirmação nos leva a refletir sobre os melindres circunstanciais de uma negociação. Dependendo da habilidade ou inabilidade dos proponentes, a coisa pode ser satisfatória para todos ou se degenerar em frustração e desconfiança. Concluída a contento a etapa inicial, o passo seguinte é manter as conquistas obtidas na mesa de negociação com zelo e prudência.
A postura ético-profissional deve ser a tônica do comportamento de qualquer pessoa em qualquer que seja o ambiente que transita. Atitudes megalomaníacas, egocêntricas, preconceituosas, estapafúrdias e ignóbeis contaminam seriamente as condições necessárias para o bom desempenho de uma organização. Um elemento nocivo possui grande poder de destruição – seus tentáculos permeiam toda a estrutura funcional. O grande risco acontece quando práticas danosas são camufladas por raciocínios maniqueístas e reacionários, que colocam posições cartesianas acima dos ideais de dignidade humana. Se tais ações nefastas não encontrarem barreiras no pensamento lúcido de uma mente ponderada, todos correrão perigo de se tornarem reféns de um sistema pervertido.
Vigilância torna-se assim a palavra de ordem. É importante exercitar nosso senso crítico para desanuviar a área cinzenta que mistura no mesmo caldo ousadia, ganância, perspicácia, malícia, competência, mau-caratismo, determinação, ardil, energia, desfaçatez etc. Ou seja, devemos aguçar nossos radares para detectar indivíduos que ultrapassaram as fronteiras do tolerável. Quem se aventura pela zona cinzenta ficará tentado mais dia ou menos dia a ir muito mais além. Foi o que fez Kenneth Lay, é o que faz muita gente que estampa páginas policiais – é o que faz muitas pessoas que não chegam a tanto, mas que arruínam empreendimentos promissores.
Regras claras e medidas preventivas devem ser muito bem trabalhadas a fim de resguardar o ambiente organizacional de elementos sinistros. Quando a erva daninha é extirpada o precioso grão cresce viçosamente expondo seu vigor e exuberância – uma regra aparentemente óbvia, mas que passa desapercebida pela maioria dos gestores. O estandarte da causa ética deve ser hasteado bem alto para que todos compreendam a mensagem. Dessa forma, será possível distinguir homens capazes de homens capazes de tudo.