Contabilidade x Economia
Recebi e reproduzo a seguir um e-mail que recebi do amigo Prof. Paulo Pires (UESB), comentando sobre o recém lançado livro “Normas Internacionais e Fraudes em Contabilidade – Análise Crítica Introdutiva Geral e Específica“, de autoria do Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá. O e-mail segue publicado após concordância do mesmo. Em tempo: o título acima foi por nos escolhido, e não pelo autor.
Mas agora está ocorrendo um fenômeno que considero inteiramente equivocado: Estão querendo por todos os meios ECONOMICIZAR a Contabilidade. Isso é inteiramente esdrúxulo. Os princípios de Economia ou as suas técnicas de um modo geral não podem ser adaptadas às da Contabilidade posto que trabalhamos sobre pilares de intensa objetividade. Ao passo que a ECONOMIA funciona – Deus sabe como – sobre uma seara enorme de conjecturas e refutações (expressão que tomo emprestada de um título de Karl Popper) que invariavelmente a leva para caminhos e descaminhos que os próprios economistas não sabem onde vão dar.
Ninguém seria louco ao ponto de ignorar a importância da transversaldade dos saberes. Longe disso. Acredito que a compreensão dessas transversalidades é que solidificam o conhecimento. Ao mesmo tempo insisto que se a Contabilidade quiser se manter como um conhecimento, uma ciência sólida, inerredavelmente terá que manter seus postulados, princípios, normas e convenções intocáveis. Ou seja, deverá manter-se como uma Ciência autônoma, independente atendendo exclusivamente aos constructos lógicos que emergem desses pilares. Caso contrário, tornar-se-á como querem os economistas, os administradores e os financistas, um pequeno apêndice das outras ciências.
A Contabilidade Pura trabalha e apresenta componentes que demonstram “o que é ou o que foi“, e nunca “o que deveria ser“. Isso é coisa para filósofos e futurólogos da Economia. Na melhor das hipóteses podemos apresentar informações projetivas por intermédio da Contabilidade Gerencial. Mas querer fazer da Contabilidade tradicional uma mistura do fato ocorrido com o fato que poderia ter sido, é um erro lógico. O mais ingênuo dos seres humanos, dentro do uso de suas faculdades mentais, jamais aceitaria os pronunciamentos técnicos do CPC, tendo em vista eles representarem um conjunto de propostas que, já está provado historicamente, não deram certo nos Estados Unidos e muito menos na Europa.
É óbvio que essa tendência de ECONOMICIZAR a Contabilidade, advém de um conjunto de pessoas (operadoras de Mercado) que querem mais e mais confundir o raio de visão dos que se aventuram em Investimentos.
Quanto mais confundirem, melhor para eles. O fato é que os meus colegas historiadores, filósofos, sociólogos, etc. “tiraram um sarro” da minha cara, perguntando por que as auditorias, as Controladorias, a Contabildade, a Administração, as Finanças ou a Economia das empresas e dos países não conseguiram impedir a “débacle” dos impéros capitalistas.
Considero essa pergunta dos colegas excelente. Realmente nenhuma das ciências do ramo de negócios impediu a queda e o fracasso dos Mercados. É óbvio também que os MANGANGÕES que operam esse Mercado, não perderam nada. Só os trouxas, os pequenos investidores ou as sociedades pagaram o Pato.
O Neo-Liberalismo, imediatamente se ocupou de espalhar que a situação ficou ruim, porque os governos não estavam tomando conta dos seus orçamentos e exigiram urgentemente um AJUSTE FISCAL (na realidade um APERTO FISCAL).
O que se infere da crise de 2008 é que mais uma vez o Mercado é bom para privatizar LUCROS e melhor ainda para socializar PREJUIZOS.
A propósito, mesmo com a Lei Sarbannes – Oxley (2002), não foi possível evitar a quantidade de fraudes nos Estados Unidos.
Querem saber? Acho que o problema não é só de planejamento, registro, execução e controle. A coisa transcende a isso e cai no espaço da ÉTICA.
Um abraço para todos e acho que devemos fazer umas mesas redondas para discutirmos e criticarmos as debilidades das Ciências Contábeis.
O autor: Prof. Paulo Fernando de Oliveira Pires, graduado em Ciências Contábeis pelo Instituto de Brasileiro de Contabilidade (1979) , especialização em Contabilidade pelo Fundação Getúlio Vargas – RJ (1982) , mestrado em Contabilidade Gestão Empresarial pelo Fundação Visconde de Cairú (2002) e aperfeicoamento em Contabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1986), Coordenador Curso Ciências Contábeis da Univ. Estadual Sudoeste da Bahia – UESB – Vitóra da Conquista – BA. Contador da Empresa Municipal de Urbanização de Vitória da Conquista.