Demonstrações financeiras interativas
A padronização e centralização das informações contábeis das empresas é premissa para a implantação do SPED. Dessa forma, não é surpresa surgir nas discussões o XBRL, sigla que, em inglês, deriva de linguagem extensível de informações empresariais, como formato mais adequado para disseminação destas informações, pois ele torna mais fácil e iterativa a demonstração dos resultados financeiros, além de tornar o processo mais rápido, seguro e de forma indexada.
O sistema não é desconhecido dos brasileiros. Empresas brasileiras com ações emitidas na bolsa da Nova York, como Petrobras, Bradesco e Net Serviços, participaram do programa de voluntários da Securities and Exchange Comission (SEC) onde emitiram suas demonstrações em formato XBRL a fim de testar os conceitos e ferramentas disponíveis.
Com o inicio do SPED e seu braço contábil, a Escrituração Contábil Digital, ou ECD, o governo vem estudando a adoção do formato XBRL como possível meio digital de disponibilização das informações, em especial às relativas ao IFRS. Mas, aqui, o sistema não será obrigatório, como já é nos EUA – lá, as empresas terão obrigatoriamente que adotar o sistema após o período de testes, que ainda está ocorrendo.
Para emitir suas demonstrações, as empresas levam semanas. Algumas, até meses. É um processo que envolve muitas pessoas, além de ser inseguro, pois está sujeito a erros. E tem um alto custo para as empresas. O processo eletrônico já provou ser a melhor maneira de reduzir tempo e custo. Neste contexto, o XBRL leva vantagens. Uma vez implantado, deve estar integrado em todos os sistemas que geram informações. Dessa forma, as informações advindas de sistemas distintos são consolidadas com muita rapidez. A replicação dos dados também estará livre de erros de digitação, uma vez que é automática, o que garante maior segurança à empresa. A adoção do processo não é complexa, pois se trata de apenas mais uma maneira de divulgar o balanço, sem muitas mudanças para as companhias.
Assim como a velocidade de produção dos relatórios pode ser aumentada, o tempo de revisão e a credibilidade dos dados é aprimorada por meio do exame dos dados utilizando-se softwares específicos.
O XBRL pode ser considerado como um padrão para indexação ou rotulação das informações financeiras, o que torna a comparação dos resultados financeiros entre as companhias um processo tão simples quanto arrastar e soltar. Os investidores, com certeza, se beneficiarão das possibilidades deste formato de dados, pois todos os que têm em seus computadores códigos específicos cadastrados receberão as informações divulgadas pelas empresas. O XBRL tem a mesma origem do sistema de divulgação de notícia RSS, pelo meio do qual é possível receber informações em tempo real quando conectado.
A capacidade de padronização das informações financeiras embarcada no XBRL só pode ser aproveitada quando as demonstrações estão na mesma linguagem contábil. Desta forma, o IFRS alavanca consigo a necessidade de uma linguagem padrão para armazenamento e disseminação dos dados em uma forma portável como o XBRL.
Em plena era da “computação em nuvem”, as empresas que se utilizam de sistemas integrados de gestão, capazes de processar centenas de milhares de pedidos, notas fiscais e pagamentos por dia, ainda levam muito tempo para emitir seus demonstrativos.
Em resumo, os formatos hoje amplamente utilizados não são apropriados, tampouco padronizados e estruturados de forma a facilitar sua criação, divulgação e análise. Isso, agora, será possível com o XBRL.
Rodrigo Silveira é consultor sênior e Jair Fahl é associado da Terco Grant Thornton, onde atuam na área de Consultoria de TI.
Fonte: B2B Magazine, 29.09.2009