Empresas brasileiras perdem R$ 871 bi em valor de mercado
Há aproximadamente um ano as empresas brasileiras de capital aberto comemoravam o feito de terem ultrapassado, pela primeira vez na história, a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado. Um recorde destruído ao longo de 2008, principalmente no segundo semestre, em virtude do acirramento da crise do subprime e seus desdobramentos pelos mais diversos setores da economia mundial, pontuam os analistas. No último dia 26, o valor de mercado das empresas havia caído para cerca de US$ 600 bilhões. Em reais, a queda foi de 41,5% e as 323 companhias presentes durante todo o ano na bolsa passaram de um valor de mercado de R$ 2,09 trilhões em 31 de dezembro de 2007 para R$ 1,22 trilhão em 26 de dezembro, uma perda de R$ 871,27 bilhões. Das 58 empresas que compõem o Ibovespa (índice da Bolsa de Valores de São Paulo), apenas sete elevaram seu valor de mercado.
“É como se duas Petrobras (cujo valor de mercado ao final de dezembro de 2007 estava em R$ 429,92 bilhões) ou dois setores bancário (27 bancos valiam R$ 407,21 bilhões no mesmo período) tivessem virado pó”, compara Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica, que elaborou a pesquisa. O estudo considera o desempenho do grupo de empresas analisadas, por setor e os resultados individuais das companhias, particularmente blue chips – listadas no Ibovespa. “Um ano atrás só os muito pessimistas acertariam previsões com perdas dessa natureza. 2008 foi de quedas intensas, depois de vários anos de ganhos”, afirma Aloísio Lemos, analista da corretora Agora.
Conforme os especialistas, os recursos sumiram da bolsa brasileira, em especial, porque muitos investidores estrangeiros, que formam o principal grupo da Bovespa, quiseram realizar lucros aqui para cobrir prejuízos lá fora ou buscaram aplicações consideradas de menor risco. “Os resultados das empresas foram muito positivos este ano. Os impactos da crise só serão vistos nos balanços do quarto trimestre. Sem a crise, o desempenho das ações seria outro”, diz Rivero.
Principais quedas
Nominalmente, a Petrobras registrou a maior perda, de R$ 209,32 bilhões no intervalo investigado, ou 48,7%, chegando o seu valor a R$ 220,59 bilhões na última sexta-feira. “Foi a maior queda na América Latina. Somada com a da mineradora Vale (que perdeu 49,6%, para R$ 136,39 bilhões) esse decréscimo representa 39,5% do total das perdas das empresas de capital aberto pesquisadas”, ressalta Rivero, observando que esse dado mostra o quanto o mercado brasileiro de capitais está concentrado. Lemos lembra que essas empresas tiveram seu valor afetado também pela queda nos preços das commodities neste ano.
Percentualmente, a maior queda por empresas foi da Rossi Residencial, com 80,6%, para R$ 690 milhões. As ações da Rossi refletem o conjunto da área de construção, que registrou a maior desvalorização setorial no período, de 72,4%. As 29 empresas de capital aberto do setor perderam R$ 38,42 bilhões, atingindo R$ 14,66 bilhões. “Além da avalanche internacional, esse setor foi impactado também pelo grande número de novatas na bolsa. Empresas que chegaram (abriram capital) com valores inflados que, com o tempo, foram revistos para baixo pelo mercado”, diz Rivero.
O setor de papel e celulose ficou na segunda posição do ranking das maiores desvalorizações, com queda de 68,3%. O desempenho das ações de fabricantes como a Aracruz (queda de 78,9%, na segunda colocação do ranking de perdas) e Votorantim Papel e Celulose (menos 68,2%), afetadas pelas perdas com os denominados derivativos exóticos, ajudou a levar o conjunto de cinco companhias dessa área a se desvalorizar em R$ 30,64 bilhões, atingindo R$ 14,2 bilhões. O setor de veículos e peças, com queda de 59,6% e valor de mercado de R$ 10,47 bilhões, também encabeça a lista dos principais perdedores.
“A pesquisa mostra que o setor produtivo foi o que mais perdeu. A área de serviços, exceto construção e, particularmente, os pesados, foi menos castigada”, afirma Rivero. Telecomunicações, com queda de 14,6%, e energia elétrica, menos 22,6%, estão na última e na penúltima colocação, respectivamente, na relação por setores. De 20 setores analisados, nenhum teve ganho. O bancário, que mundialmente está no cerne da crise, perdeu 33% em valor de mercado, para R$ 272,89 bilhões.
Mais valorizadas
O Banco Nossa Caixa é o único banco no seleto grupo das sete empresas (Brasil Telecom, Eletrobras, Ultrapar, Natura, JBS e Trans Paulista) cujo valor de mercado subiu. Em função da compra pelo Banco do Brasil, a Nossa Caixa se valorizou 188,2% e alcançou valor de mercado de R$ 7,28 bilhões. “Foi a maior alta entre as blue chips latino-americanas”, observa Rivero.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados – Pág. 1)(Iolanda Nascimento)