Auditoria: Europa incomodada

 

Europa ameaça auditores com mudanças estruturais

 Contabilidade: Autoridades querem mexer no funcionamento da profissão, especialmente para assegurar a independência e a concorrência.
 

Nikki Tait e Adam Jones | Financial Times, de Bruxelas
 

Os auditores na Europa deverão enfrentar novas regras neste ano, que tentarão deixar seu papel mais claro na esteira da crise financeira internacional, segundo afirmou a principal autoridade de serviços financeiros da União Europeia (UE) na quinta-feira.

 

O comissário de Mercado Interno da União Europeia, Michel Barnier, disse em conferência em Bruxelas que terão de ser promovidas mudanças na forma como a profissão funciona, especificamente para assegurar sua independência e tornar o mercado por seus serviços mais competitivo.

 

"O status quo não é mais uma opção", disse ele, sugerindo que a crise abalou a imagem da profissão. "O momento de agir está próximo […] Farei sugestões com o objetivo de apresentar uma proposta de diretrizes […] em novembro", afirmou.

 

Barnier delineou áreas gerais de preocupação, entre as quais o papel dos auditores e até que ponto esse papel deve ir além da tarefa restrita à empresa sendo auditada e seus investidores, estendendo-se também a clientes, funcionários e autoridades reguladoras.

 

Outro foco deverá ser a independência da profissão. Entre as possíveis formas de avanço nessa área, segundo Barnier, podem ser incluídas restrições ao grau de combinação permitido entre as funções de auditoria e não auditoria que essas empresas detêm; uma rotatividade regular das firmas de auditoria que cuidam das contas de uma empresa; leilões regulares e abertos de concorrência; e um maior papel para as comissões de auditoria das empresas na seleção das empresas de auditoria.

 

 

Uma terceira área em análise, acrescentou Barnier, é determinar como possibilitar mais opções no mercado de auditoria, dominado pelas quatro grandes firmas internacionais, Deloitte, PwC, Ernst & Young e KPMG.

 

Nessa questão, o comissário disse que as ideias apresentadas em resposta ao recente documento para discussão elaborado por Bruxelas trouxeram à luz várias possibilidades.

 

As opções vão desde determinar um limite para a participação de mercado das grandes firmas de auditoria no trabalho com as empresas de capital aberto até uma auditoria conjunta, em que o trabalho seria divido por duas firmas, com uma delas não sendo necessariamente uma das quatro grandes.

 

Mike Power, professor de contabilidade na London School of Economics, considerou difícil dizer se as autoridades seguirão adiante com duas das opções mais controversas: a rotatividade obrigatória das empresas de auditoria e os trabalhos conjuntos de auditoria.

 

As duas ideias provavelmente agradariam ao quarteto de redes de auditores que estão um degrau abaixo das quatro grandes – BDO, RSM, Grant Thornton e Mazars – e que nesta semana tomaram uma medida incomum, fazendo lobby conjunto pela intervenção dos reguladores.

 

Ernst & Young nomeia primeiros conselheiros
 

Adam Jones | Financial Times, de Londres
 

Três personalidades do mundo dos negócios e da regulamentação tornaram-se os primeiros conselheiros independentes contratados pela Ernst & Young, o auditoria que está lutando para se distanciar do colapso do Lehman Brothers.

 

O trio é formado por Mark Olson, ex-presidente do Conselho de Supervisão de Contabilidade das Companhias Abertas (PCAOB), que regula os auditores nos Estados Unidos, Sir Richard Lambert, ex-diretor-geral da Confederação da Indústria Britânica, a associação dos empresários do Reino Unido, e Klaus Mangold, um ex-executivo da DaimlerChrysler.

 

Suas nomeações são uma resposta a uma revisão da governança das empresas de auditoria no Reino Unido.

 

No ano passado, os reguladores exigiram que as oito maiores auditorias do país nomeassem conselheiros independentes para oferecer uma perspectiva externa dentro dessas sociedades fechadas e resguardar suas reputações.

 

Mas, apesar de a Ernst & Young vir na esteira dos rivais KPMG, PwC, BDO e Grant Thornton, na nomeação de conselheiros, suas escolhas – em especial de Olson – serão rigorosamente escrutinadas pelo mercado por conta de seu papel polêmico como auditor do Lehman Brothers.

 

Em dezembro, promotores de Nova York acusaram a auditoria de ajudar o Lehman a montar uma "fraude contábil de grandes proporções" ao aprovar uma medida que reduziu temporariamente a dívida do banco de investimento que deu aos investidores a impressão de que estava em boas condições financeiras.

 

A Ernst & Young respondeu à ação civil dizendo que não havia base factual ou jurídica para o processo, argumentando que a manobra da dívida estava em conformidade com as normas contábeis dos EUA.

 

Sir Richard, ex-editor do "Financial Times", descreveu o seu novo papel na contabilidade como de "um independente que é solidário com os donos da sociedade, mas separado dela", ao invés de agir como um cão de guarda.

 

Ele disse que estava confortável com a defesa da Ernst & Young do seu trabalho sobre a auditoria Lehman: "Eu não tenho qualquer dúvida sobre isso".

 

Perguntado se ele poderia ser usado como um canal de comunicação entre a Ernst & Young e reguladores sobre a saga de Lehman, disse que essa possibilidade não tinha sido levantada.

 

Os três conselheiros vão se sentar ao lado dos sócios no conselho consultivo mundial da Ernst & Young, o alto órgão de governança para a sua rede internacional de firmas. Mais nomeações de conselheiros se seguirão, acrescentou.

 

No mês passado, Ernst & Young anunciou ter recrutado Jan Peter Balken-ende, ex-primeiro-ministro holandês, como sócio.. 


Fonte: Valor Econômico, FENACON


Editoria: Prof. Alexandre Alcantara