Ernst & Young enfrentará processo no caso Lehman

por Karen Freifeld e Linda Sandler | Bloomberg, de Nova York (Valor Econômico, via FENACON)
 

 

A Ernst & Young LLP será processada por fraude pelo procurador-geral de Nova York, Andrew Cuomo, por supostamente ter ajudado o Lehman Brothers a enganar investidores, segundo uma fonte a par da situação.

 

O processo estará focado nas auditorias da Ernst & Young e avaliações trimestrais dos balanços financeiros do Lehman Brothers que ajudaram o banco de investimento a minimizar seus passivos, segundo a fonte, que não foi autorizada a falar publicamente sobre o caso.

 

O processo acusará a firma de violações no estatuto de Nova York de fraude com valores mobiliários, conhecido como Martin Act, de acordo com a fonte.

 

O Lehman Brothers, outrora o quarto maior banco de investimento do mundo, quebrou em setembro de 2008, afetado por apostas imobiliárias arriscadas e pelo alto endividamento, que tentou esconder dos investidores valendo-se, em parte, das operações conhecidas como “Repo 105”, segundo um informe do analista da falência, Anton Valukas. No documento, Valukas afirma que a Ernst & Young poderia ser acusada de “negligência profissional” em seu papel de auditoria.

 

O informe de Valukas certamente foi “a fagulha que iniciou” o interesse de Cuomo, disse Harvey Miller, principal advogado de falência do Lehman Brothers, em entrevista. “Não sei o que o novo promotor-geral fará quando assumir”, afirmou.

 

Cuomo será juramentado como governador em 1º de janeiro. Seu sucessor será o senador estadual Eric T. Schneiderman, democrata de Nova York.

 

As operações Repo 105 são uma forma de financiamento de curto prazo que Valukas sustenta terem sido usadas pelo Lehman Brothers para tirar, temporariamente, até US$ 50 bilhões de seu balanço para mostrar aos investidores que não carregava muitas dívidas.

 

Essas operações Repo 105 são acordos de venda e recompra, portanto, o Lehman Brothers estava obrigado a recomprá-los, com o que sua alavancagem voltava a aumentar.

 

“A manipulação do balanço patrimonial foi intencional, para ter aparência enganosa, teve impacto material sobre a taxa de alavancagem líquida do Lehman” e fez com que os balanços financeiros fossem enganosos, escreveu Valukas sobre a extinta firma nova-iorquina.

 

Richard Bamberger, porta-voz do escritório de Cuomo, e Charles Perkins, porta-voz da Ernst & Young, não quiseram comentar o assunto. Ontem, o “The Wall Street Journal” divulgou antecipadamente que o processo poderia ser iniciado nesta semana.

 

Em resposta ao informe de Valukas, em março, a Ernst & Young informou que as taxas de alavancagem divulgadas nas análises e na discussão gerencial com o Lehman Brothers “eram de responsabilidade da gerência, não da auditora. Não fazem parte dos balanços financeiros auditados.”

 

A empresa de contabilidade foi citada em pelo menos uma ação coletiva acusando Richard Fuld, ex-presidente do conselho de administração do Lehman Brothers, e outros executivos de enganar investidores com operações como as operações Repo 105. Um processo, baseado no informe de 2,2 mil páginas de Valukas, foi impetrado em 23 de abril em nome de fundos de pensão, como o Alameda County Employees’ Retirement Association, de Oakland, Califórnia, e o Government of Guam Retirement Fund.

 

Em junho, executivos do Ernst & Young solicitaram ao juiz para recusar a ação coletiva, negando que os investidores tenham perdido dinheiro com papéis do Lehman Brothers por causa de declarações inexatas ou omissões nos documentos oferecidos.

 

“Temos confiança em nossa capacidade para defender-nos com sucesso contra as acusações que surjam a partir de nosso trabalho com o Lehman”, afirmou o Perkins, em e-mail na ocasião. “Acreditamos firmemente que nosso trabalho atendeu todos os padrões profissionais cabíveis.”

 

O banco de investimento vinha usando as Repo 105 desde 2001, tendo intensificado seu uso em meados de 2007, quebrando os limites internos, segundo mostra o informe de Valukas. Herbert “Bart” McDade, ex-presidente do Lehman Brothers, comentou o assunto em abril de 2008, em troca de e-mails, após ser perguntado se sabia do impacto no balanço, de acordo com Valukas. “Estou bem ciente”, escreveu McDade. “É outra droga que estamos usando.”

 

O Conselho de Contabilidade Financeira (FRC), órgão regulador do setor no Reino Unido, havia informado neste ano estar investigando a auditoria da Ernst & Young sobre as operações Repo 105. (Colaborou Josh Gallu, de Washington).

 
 
 

Editoria: Prof. Alexandre Alcantara