Auditoria e Corrupção
Brasil amarga o título de país pouco auditado.
Escândalos recentes de corrupção e fraudes financeiras trouxeram à tona importância do trabalho de auditores independentes e contabilistas para minimizar impacto de delitos
A sociedade brasileira, no último ano, ficou a par de diversos escândalos de corrupção e fraudes financeiras, que culminaram com a prisão de políticos e executivos de grandes companhias. A atuação de contadores e auditores poderia minimizar consideravelmente o número de fraudes contra órgãos públicos e empresas.
“Devemos lembrar que toda a discussão sobre fraudes, fragilidade e abuso dos órgãos públicos na demonstração dos resultados foi iniciada justamente pelo fato de uma empresa de auditoria não validar e não assumir os resultados apresentados com flagrante falta de critérios éticos”, lembra o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC-SP), Gildo Freire de Araújo.
No entanto, no Brasil, esses profissionais ainda são pouco requisitados. Para se ter uma ideia, o País tem um auditor independente para grupo de 24.615 habitantes. Número bem superior ao de países da Europa e até mesmo da vizinha Argentina, que tem um profissional para grupo de 13.205 pessoas (veja arte acima). A tendência, porém, é que, aos poucos, essa realidade comece a mudar. “No Brasil, as empresas são pouco auditadas e isso contribui para ineficiências e fraudes”, destaca Marcos Sanches, sócio-diretor da TG&C Auditores. Outro dado que chama a atenção é que no Brasil inteiro temos cerca 560 mil contadores para um universo de quase 5,5 milhões de organizações.
Leia AQUI a íntegra da matéria publica no Jornal DCI.
DICA de leitura adicional – Recomendamos a leitura do artigo de Stephen Kanitz: “O Brasil não é um país intrinsecamente corrupto“, no qual ele afirma em um trecho que
“O Brasil não é um país intrinsecamente corrupto. Não existe nos genes brasileiros nada que nos predisponha à corrupção, algo herdado, por exemplo, de desterrados portugueses.
A Austrália que foi colônia penal do império britânico, não possui índices de corrupção superiores aos de outras nações, pelo contrário. Nós brasileiros não somos nem mais nem menos corruptos que os japoneses, que a cada par de anos têm um ministro que renuncia diante de denúncias de corrupção.
Somos, sim, um país onde a corrupção, pública e privada, é detectada somente quando chega a milhões de dólares e porque um irmão, um genro, um jornalista ou alguém botou a boca no trombone, não por um processo sistemático de auditoria. As nações com menor índice de corrupção são as que têm o maior número de auditores e fiscais formados e treinados. A Dinamarca e a Holanda possuem 100 auditores por 100.000 habitantes. Nos países efetivamente auditados, a corrupção é detectada no nascedouro ou quando ainda é pequena. O Brasil, país com um dos mais elevados índices de corrupção, segundo o World Economic Forum, tem somente oito auditores por 100.000 habitantes, 12.800 auditores no total. Se quisermos os mesmos níveis de lisura da Dinamarca e da Holanda precisaremos formar e treinar 160.000 auditores”.
Publicado originalmente na Revista Veja, edição 1600, ano 32, nº 22, de 2 de junho de 1999, página 21, com o título “A origem da corrupção”.