Auditoria: conversas abertas

Por Rachel Sanderson, do Financial Times, de Londres
15/06/2010

As firmas de auditoria precisarão divulgar parte das discussões privadas que mantêm com clientes do setor de bancos, com base nas propostas que deverão ser publicadas nessa semana, cuja intenção é aprimorar a utilidade dos serviços de auditoria na esteira da crise do setor bancário.

As propostas apresentadas pelo Instituto de Contadores Certificados da Inglaterra e do País de Gales surgem em resposta a questionamentos por parte do Comitê de Investigação do Tesouro (no parlamento inglês) e na Comissão Europeia sobre o valor das auditorias prestadas, posto que elas fracassaram na missão de alertar para os riscos que levaram à crise bancária.

Por seu turno, os auditores costumam argumentar que seus pareceres não são uma garantia de que aquela empresa não terá problemas no futuro, mas apenas que os dados do balanço estão apresentados adequadamente e que foram checados.

O fato é que as sugestões deverão despertar fortes emoções, à medida que auditores graduados nas quatro grandes firmas de auditoria – PricewaterhouseCoopers, Deloitte, Ernst & Young e KPMG – se opuseram a essas propostas, argumentando que fornecer uma análise mais detalhada dos riscos relativos à saúde financeira de um banco poderá elevar seu risco de serem processados.

As propostas deverão servir de apoio a uma atualização de supervisão conjunta nesse mês realizada pela Financial Services Authority (FSA, órgão regulador do sistema financeiro no Reino Unido) e pelo Financial Reporting Council (órgão regulador independente do Reino Unido incumbido de promover a confiança nos relatórios e governança corporativa), que detalhará falhas de firmas de auditoria durante a crise e que recomendou mudanças na governança.

O Instituto disse que sua sindicância de seis meses para apurar o valor das auditorias dos bancos revelou que os investidores estavam especialmente insatisfeitos com os pareceres dos auditores. O processo interno envolvido foi percebido como de ajuda para manter os executivos dos bancos sob controle, mas os investidores sentiram que o parecer era apenas um exercício burocrático desprovido de valor.

Ian Coke, diretor da Faculdade de Serviços Financeiros do Instituto, disse que essas conclusões revelaram que, se havia “uma grande lição [decorrente da crise]” para os auditores aprenderem, era a de que será preciso fazer mais para explicar o valor dos pareceres dos auditores. “[Tornar] mais informação disponível sobre as discussões privadas mantidas entre auditores e bancos poderá elevar o valor atribuído às auditorias e aumentar a confiança do mercado”, diz Coke.

Outras sugestões incluem realizar uma auditoria completa nos balanços do primeiro semestre (e não apenas uma revisão limitada), e uma auditoria dos informes divulgados pelos bancos acerca dos riscos enfrentados pelos seus negócios. Coke disse que está ciente de que isso poderá elevar a carga de trabalho dos auditores.

O Instituto disse que, de forma geral, as auditorias e os reguladores das firmas de auditoria se sustentaram bem na crise. As reformas efetuadas na profissão após a quebra da Enron suportaram “seu primeiro tese de peso”.

Mesmo assim, ele disse que são necessárias mudanças adicionais nas normas de regulamentação, informes financeiros e de auditoria. O documento diz, por exemplo, que os bancos forneceram informação “fragmentada” sobre riscos. Um relatório resumido sobre os fatores de risco, que fosse auditado, atenderiam melhor os investidores, disse o relatório. O Instituto sugere também que os comitês de auditoria das empresas precisam ter um novo guia de boas práticas.

O relatório criticou os órgãos reguladores, por estes não atribuírem suficiente valor ao diálogo com os auditores. Ele disse que é preciso tomar providências para transformá-lo num processo de mão dupla.

Com base na pesquisa feita no Reino Unido, os resultados são acompanhados de perto na Europa e nos EUA, onde as investigações dos órgãos reguladores para apurar as práticas das auditorias vem tomando impulso.


Fonte: Valor Econômico, FENACON (grifos nossos)

Editoria: Prof. Alexandre Alcantara